Causas Atuais e Anteriores das Aflições

Léo, nosso colaborador é advogado. Então já sabemos que dele sempre temos textos bastante claros e bem construídos. Só que é espírita também. Então temos um artigo absolutamente fundamentado na doutrina que nos permite refletir sobre esse tema que à primeira vista pode ser um pouco amedrontador. Leia e verá…

 

A vivência nos mostra que o sofrimento, em maior ou menor grau, é um elemento da vida encarnada.   Entretanto, essa mesma vivência revela profunda desigualdade na carga de sofrimento que cada ser humano carrega, além de um aparente desequilíbrio na distribuição de bens e de males entre os encarnados. O Evangelho Segundo o Espiritismo, contudo, explica não só a razão dessa desigualdade, mas atesta que esse desequilíbrio é apenas aparente.

Em algumas passagens do Evangelho, Jesus promete compensações aos aflitos ao dizer que os que choram serão consolados e aqueles que tem fome de justiça serão saciados.  Mas essa compensação é prometida para uma vida futura, reforçando a afirmação encontrada em Eclesiastes de que “a felicidade não é deste mundo” e o entendimento de que estamos num mundo de “provas e expiações”. Em outras palavras, não estamos aqui em férias. Encarnamos para evoluir moralmente e intelectualmente e esse aprendizado, no estágio em que nos encontramos, envolve necessariamente as provas e o sofrimento das expiações.

As provas estão ligadas ao exercício do livre arbítrio, algo que acontece inúmeras vezes por dia, desde as situações mais simples – agradecer ou não o motorista de ônibus que atendeu nosso sinal de parar no ponto – até os dilemas mais intrincados que muitas vezes a vida nos apresenta. Mas toda vez em que exercemos nosso livre arbítrio e praticamos uma “ação”, o “universo” nos retribui com uma “reação” de igual natureza e intensidade. Trata-se da Lei de Ação e Reação. E é aí que entram as expiações.

De fato, quando optamos por não seguir o caminho do bem e causamos sofrimento a outrem, temos um sofrimento de igual natureza e intensidade como reação. E isso não acontece por mera punição. Ao contrário, esse sofrimento, que chamamos de expiação, é antes uma ferramenta de aprendizado, uma oportunidade de sentirmos na pele a extensão dos males que nós mesmos causamos ao nosso irmão.

Só que essa resposta nem sempre é imediata, de modo que as aflições que nos acometem como reação às nossas ações podem ocorrer na mesma encarnação ou em uma encarnação futura, cabendo falar, pois, em causas atuais (da mesma encarnação) e anteriores (de encarnações passadas) das aflições.

As nossas aflições originam-se, majoritariamente, de causas atuais. Isso quer dizer que nosso sofrimento geralmente advém da conduta (exercício do livre arbítrio) que adotamos na mesma encarnação. O Evangelho cita alguns exemplos dessas causas, tais como: orgulho, ambição desmedida, imprevidência, falta de perseverança e imoderações. E vai além, afirmando que é comum atribuirmos a culpa ao azar, à falta de oportunidade, a espíritos obsessores ou à Providência, em vez de reconhecermo-nos como os causadores das nossas aflições.

Cedo ou tarde, contudo, percebemos que essa responsabilidade é nossa. E quando isso ocorre muito tarde, olhamos para trás e dizemos “perdi minha vida”, assim como o trabalhador preguiçoso olha para trás e diz “perdi meu dia”. Mas a bondade divina, sendo infinita, dá ao trabalhador preguiçoso a possibilidade de trabalho ao raiar do novo dia, assim como aos espíritos a oportunidade de entender e reparar seus males em outras encarnações. Daí, então, as causas anteriores das aflições.

Essas causas anteriores geralmente se manifestam por meio de males aparentemente estranhos à nossa vontade: deformidades congênitas, mortes prematuras, flagelos naturais etc. Não se trata, entretanto, de castigo, mas de oportunidade de aprendizado. Daí a explicação para a aparente anomalia de distribuição de bens e males a que nos referimos no início.

Destaque-se, finalmente, que alguns espíritos um pouco mais evoluídos podem, no planejamento encarnatório, escolher provas duras, que mais parecem expiações, para acelerar o aprendizado. Vemos essas situações quando nos deparamos com aquelas pessoas que encaram resignadamente os sofrimentos que a Terra lhes impõe.

Em qualquer caso, sendo atual ou anterior, uma reação ou uma escolha, devemos ter em mente que o sofrimento na vida encarnada é uma oportunidade de aprendizado acelerado, que na erraticidade tomaria muito mais tempo e trabalho do espírito. E é por isso que devemos empreender  todos os esforços para encarar resignadamente (mas não conformadamente) os sofrimentos que a vida nos impõe, procurando extrair deles as lições que viemos aprender.

Leonardo Mazzillo

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3 thoughts on “Causas Atuais e Anteriores das Aflições

  1. Ola. Gostei do texto, mas tenho uma dúvida….

    Qual seria a diferença de encarar resignadamente e encarar conformadamente uma situação dificil?

    Pode dar um exemplo, pf.

    Abs,

  2. Querida Ana Lara, muito obrigado por sua pergunta!

    Imagine que alguém sofre um acidente de carro e, com isso, perde o movimento das pernas.

    Esse irmão poderá encarar essa situação difícil de diversas formas. Para aqueles que não se revoltam – reação natural, mas que deve ser combatida, uma vez que assim não se resolve problema algum – vemos com frequência algumas pessoas agirem com conformismo e outras apenas com resignação.

    O resignado aceita o fato de ter perdido o movimento das pernas, sem se revoltar com isso, mas não fica parado: vai à luta para aprender a conviver com uma cadeira de rodas e para ser uma pessoa ativa e ter um trabalho (obviamente quando isso é possivel).

    Já o conformista também não revela uma revolta aparente, mas se deixa abater e permanece inerte, geralmente lamentando-se pelo infortúnio. Como perdeu o movimento das pernas e não pode mais ter a mesma vida que tinha antes, desiste do trabalho e passa a viver apenas com sua modesta aposentadoria e dependo exclusivamente da ajuda dos outros.

    Veja que depender dos outros às vezes não é uma opção nas nossas vidas. Se for assim, devemos encarar o fato com resignação. Mas isso não quer dizer que devemos ser conformados e não lutar para ter uma vida melhor, para praticar a caridade e para cumprir os deveres de todo o encarnado, dentre os quais o exercício de um trabalho honesto.

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