Comer o bolo, sem querer que acabe

Sabe aquela vontade de manter eternamente ao seu lado alguém que você gosta muito?

Ou, por outro lado, você já relutou em ter um vínculo mais estável num relacionamento, por achar que vai afetar sua liberdade ou por medo de sofrer?

Segundo o sociólogo Zygmunt Bauman, na sociedade atual há uma fragilidade nos vínculos humanos, que causa um sentimento de insegurança e “desejos conflitantes de apertar os laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos”. 

Ele afirma que essa fragilidade nos vínculos advém de um conflito entre buscar segurança e, ao mesmo tempo, a necessidade de proteger a individualidade e liberdade.

Mas é ilusório querer ter um relacionamento no qual se tem liberdade e segurança o tempo todo, quer seja na família, nas amizades, nos amores, etc.  Uma prova disso talvez possam ser os dois exemplos abaixo. Pense se os cenários abaixo fazem algum sentido pra você:

  1. Quando abrimos mão de uma parte da nossa liberdade, é possível fortalecer a nossa segurança.

Exemplo: manter-se num relacionamento simplesmente para se sentir seguro(a).

  • Quando buscamos muita liberdade, nossa segurança pode ficar mais suscetível.

Exemplo: relacionar-se superficialmente, sem criar vínculo, para se sentir livre, e isso causar insegurança no que esperar do outro.

Como então conseguirmos lidar com essa ambiguidade entre ter liberdade e segurança nos relacionamentos e buscarmos relativo equilíbrio?

Não há respostas prontas! Mas buscando alguma luz neste tema, encontrei uma mensagem de Joanna de Angelis (psicografia do Divaldo) sobre insegurança e medo, na qual o conselho é:  buscarmos aprender a agir conforme as circunstâncias, as possibilidades e assim trabalharmos nossos medos e inseguranças gradativamente. Baseada nessa mensagem, também montei o esquema abaixo (dá uma olhada se tem lógica):

SER HUMANO = SOMA DAS EXPERIÊNCIAS VIVIDAS = AGE DE ACORDO COM ELAS

Ou seja, nós nos comportamos conforme o que já vivenciamos, erramos, acertamos, sofremos (nesta e noutras vidas)…e isso desencadeia as “fobias, as ansiedades, as satisfações, o bem ou o mal-estar”. Portanto há uma boa probabilidade de nossos medos e inseguranças na área dos relacionamentos não serem reais.

Vale a pena ter em mente que em qualquer relacionamento nunca teremos o controle sobre o outro, só sobre nós mesmos. E a primeira pessoa que tem que dar valor pra você é você mesmo(a).

Portanto, não dá pra “comer o bolo sem querer que acabe”. Ou seja, não dá para aproveitar um bom relacionamento se quisermos controlar o outro para sentir segurança. Liberdade e estabilidade precisam ser pensadas e dosadas continuamente, justamente por serem situações ambíguas. Então, que tal comer o “bolo” devagarinho sem medo que ele acabe? Ele pode ser degustado aos poucos, aproveitando cada momento, vivendo o presente e buscando um meio termo através da compreensão, do diálogo, do autoconhecimento e autovalor.

Luz e muito amor!

SORAIA DE OLIVEIRA GATTO

Fontes de referência:

– Franco, Divaldo Pereira, Insegurança e Medo, Momentos de Felicidade.. Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis Salvador, BA: LEAL, 1990, disponível em   https://espirito.org.br/mensagens/inseguranca-e-medo/

– Bauman, Zygmunt, Amor Líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos, Prefácio, pp 8 a 12.

Facebooktwitterlinkedinmail