A intolerância que faz parte de nossa vida atualmente faz com que diariamente nos examinemos com relação ao preconceito. Será que não somos mesmo preconceituosos? Lê o que nos propõe o Amilton neste texto.
Amilton Maciel
Temos ouvido (e lido) muito sobre a aceitação das pessoas no meio espírita. Acostumamo-nos com a ideia de que “espírita não tem preconceito”, que no meio espírita todos são bem-vindos, e que há espaço para todo mundo. Que todos são filhos de Deus.
Essa aceitação é tida como uma verdade sólida, e todo espírita gosta de pensar assim. Mas…
Será que o meio espírita aceita mesmo a diversidade?
Tudo bem, você dirá que conhece mais de um homossexual que frequenta o centro que você vai, que até dá palestras ou ministra cursos.
Mas te convido a olhar mais de perto. Será que se esse companheiro fosse um homossexual com mais trejeitos, mais afeminado, teria o mesmo espaço? E se fosse um travesti, com salto alto, com roupas femininas, coloridas, com aquele jeito exuberante?
Quantos você conhece, ouviu falar ou viu, em um centro espírita? Quantos frequentam a casa regularmente? Que ministram palestras e cursos no centro espírita?
Como você acha que as pessoas no centro espírita que você frequenta reagiriam?
Você pode dizer “Ah, mas eles não vão porque não querem, seriam aceitos sim!”.
Mas peço que você pense um pouco sobre isso: Se você fosse parte de uma minoria que cresceu discriminada, humilhada, e que sofre esse tipo de preconceito diariamente, você iria se arriscar em mais um local que você não tem certeza de como será recebido? Ou você preferiria ir a um local em que fosse convidado e que tivesse certeza de que não seria discriminado?
“Você está propondo que os convidemos?” – você pensará e, certamente também “Ah, o Amilton está forçando a barra assim!”.
Muitos espíritas saem a dar assistência, sopão, roupas para população de rua desabrigada. Mas quantos você conhece que saem para levar apoio para as populações de travestis, prostitutas, para levar orientação sobre DST, distribuir preservativos ou apenas ouvir suas histórias?
Claro, muitos dirão que não fazem isso, pois essas populações se encontram na rua, em condições de “baixa vibração”, ou em uma sintonia mental ruim. Muitos torcerão o nariz para essa população, mas se acharão os espíritas mais caridosos pois fazem o sopão para os pobres, distribuem agasalhos no inverno, só que não teriam condições de trabalhar com a população de travestis e prostitutas, pois estes “tem uma faixa vibratória pesada”.
Você já se deu conta de que gente com esse pensamento, certamente não andaria ao lado de Jesus? Você já se deu conta de que essa era justamente a população assistida por Jesus, incluindo também outra população mais execrada ainda na época, os leprosos?
Em Marcos (2:17) temos o relato sobre o que disse Jesus: “Os sãos não precisam de médico, mas sim os que estão doentes”, referindo-se aos publicanos e pecadores que sentavam a mesa com ele.
Mais de 2000 anos depois esta mensagem ainda precisa ser lembrada! O exemplo de Jesus ainda precisa ser divulgado e lembrado.
Ou por acaso julgamos que estamos além das exigências do Mestre?
Temos irmãos e irmãs em situação de sofrimento, enfrentando perseguições, agressões, humilhações, absolutamente desassistidos. Para quem uma palavra de compreensão, uma mão estendida, um sorriso, um olhar compassivo pode fazer uma diferença brutal.
Pode poupar um suicídio, pode ser o recado de que alguém se importa, e pode fazer toda a diferença.
Mas quantos espíritas, que se acham caridosos, evoluídos espiritualmente, estão dispostos a estender a mão, mas a estender de maneira voluntária, destemida, amorosa e acolhedora? Quantos estão dispostos a não julgar, a seguir os conselhos do Mestre, a se provarem verdadeiros cristãos?
Eu conheço muitos ateus que o fazem, será que os cristãos, e principalmente os espíritas, também conseguem fazê-lo?