Quando buscamos nos conhecer e nos compreender com base na filosofia Espírita, partindo do princípio de que somos indivíduos criados simples e ignorantes, entendemos que vamos evoluindo e aprendendo, conforme nossas próprias escolhas. Sendo assim, tendo que lidar com a lei de causa e efeito e respondendo pelos nossos próprios atos, não seria mais lógico focarmos em nós mesmos ao invés de no coletivo?
Kardec abordou bastante esse assunto na Parte Terceira de O Livro dos Espíritos – das Leis Morais. O capítulo VII é exclusivo sobre a Lei de Sociedade, com as explicações detalhadas dos espíritos que trabalharam na codificação. As dúvidas com as quais nós mesmos eventualmente nos deparamos estão abordadas naquela obra. Especificamente sobre a Lei de Sociedade, fala-se sobre a necessidade da vida social, o isolamento, o voto de silêncio e os laços de família.
Em termos gerais, o homem “foi feito para” viver em sociedade. Nenhum ser humano progride sem a interação social – e tem sido assim desde os primórdios. Com a troca de conhecimento e o compartilhamento de experiências, vamos completando nossas faculdades e evoluindo. Mas, e na prática, como traduzimos a teoria?
Nossa dependência de outras pessoas é tão expressiva, que uma criança dificilmente sobreviveria se abandonada à própria sorte antes dos 10 anos de idade. Somente obtemos sucesso em nossos planos quando podemos contar com a participação de outros indivíduos. E o conjunto desses indivíduos e suas escolhas é que forma o coletivo, a sociedade.
Somos parte desse coletivo e indubitavelmente somos influenciados por suas características. O tempo todo estamos interagindo e progredindo em conjunto. Sem isso, não teríamos como trabalhar virtudes básicas como a humildade, a empatia, o perdão, a caridade, ou nem mesmo o amor. Tampouco o progresso intelectual ocorreria sem a interação entre os seres. Entretanto, acima de qualquer coisa está o nosso livre arbítrio e as nossas próprias escolhas. Independentemente do meio em que vivemos e das nossas crenças, as leis morais – leis de Deus – estão gravadas na nossa consciência e nos dão senso de direção. No final das contas, somos diretamente responsáveis pelas nossas ações e responderemos pelas consequências dessas, nesta ou em futuras encarnações – tanto para o bem, como para o mal: seremos cobrados ou recompensados de acordo com o nosso conhecimento e pela mesma consciência que ouvimos ou negligenciamos.
Não é por acaso que o Espiritismo foi codificado na base de perguntas e respostas – é o nosso questionamento e a busca por explicações racionais que tragam sentido à nossa vida, com todas as alegrias e percalços, que nos impulsionam ao autodescobrimento e à evolução. Muitas respostas, entretanto, já estão dentro de nós e não podemos ignorar. Somos parte do coletivo, mas não somente parte integrante – somos parte ativa: temos a capacidade de, com nossas escolhas e nossos exemplos, influenciar de volta o meio em que vivemos. E, por isso, também seremos responsáveis.
TAISA BACHARINI