Estamos vivendo um momento em que se faz necessário parar e refletir um pouco sobre as ideias com as quais temos contato e como isso influi no nosso posicionamento sobre alguns assuntos.
Nos últimos meses do ano passado uma epidemia pareceu se revelar no Brasil. Bebês começaram a nascer apresentando uma má-formação encefálica que veio a ser caracterizada como microcefalia. De uma hora para outra os números começaram a se multiplicar, hipóteses diversas foram surgindo e as pessoas adentraram uma onda de pânico. Famílias estão sendo abaladas pelo medo, mulheres estão adiando – ou até deixando – a ideia de engravidar e algumas já até saíram do país para evitar uma possível contaminação durante a gravidez.
Muita coisa está sendo dita e publicada, mas nem todas com o cuidado necessário – e é aí que entra a nossa reflexão, para evitarmos conclusões e atitudes injustas ou precipitadas.
A hipótese mais sugestiva no momento é que um vírus, o Zika, esteja sendo transmitido através da picada de um mosquito e que isso esteja causando o problema nos fetos em gestação. Calma, muita calma. Primeiramente, uma hipótese só vira teoria depois de comprovada. E isso, por mais que se esteja tentando, ainda não o foi. Continua uma hipótese. O que existe é uma associação entre a presença do vírus e as más-formações. O mesmo têm sido encontrado nos tecidos dos bebês nascidos com microcefalia. É fácil pensar então que uma é a causa da outra. Mas há diversas associações falsas e precisamos ter cuidado. Por exemplo, grande parte das pessoas que usam adoçante ao invés de açúcar estão acima do peso. Devemos então pensar que adoçantes artificiais engordam? E se for a própria má-formação que permita a passagem do vírus pela placenta e seja a causa de ele ser encontrado lá?
Não se fala no número de mulheres no Brasil infectadas pelo Zika que tiveram filhos normais, este número não existe ainda em nenhum relatório no Ministério da Saúde. Estudos mostram que em diversos países o número de grávidas que contraem o Zika vírus é grande, mas nenhum bebê nestes casos nasceu com microcefalia. Outras análises apontam que o número de bebês comprovadamente nascidos com a má-formação – que foi assumidamente superestimado pelas autoridades no início e depois caiu para menos de um terço – em relação ao número total de nascimentos no país é proporcional à quantidade de casos em todo o resto do mundo, o que nos leva a desconfiar que em épocas anteriores este número não tenha sido devidamente informado no Brasil (não havia obrigatoriedade de se notificar casos de medidas cranianas em bebês com menos de 32 cm).
Independente de qualquer hipótese em curso ou qualquer estudo que esteja sendo feito, temos bebês nascendo com síndromes e más-formações. Sempre tivemos. E assim tende a ser ainda por um bom tempo. Mas não exclusivamente de microcefalia. Isso não é consequência de falta de investimento em saúde ou coisa do tipo, é uma condição ainda inerente à raça humana.
Nenhum de nós é um ser perfeito. Estamos muito longe disso. Todos temos problemas, conflitos e dificuldades, sejam quais forem: físicos, morais, intelectuais, mas fato é que todos estamos na mesma caminhada da evolução e merecemos ser respeitados e compreendidos como somos. Ainda com nossas falhas e deficiências, não somos condenados à morte. Não temos nosso direito à vida e à liberdade retirado de nós diariamente a cada queda. Por que faríamos isso com um bebê? Qual crime ele teria cometido para haver alguém que defenda sua morte? Não é possível nem mesmo avaliar previamente quais as sequelas, se é que existirão, de um caso de microcefalia. Além disso, muitos são diagnosticados equivocadamente e se mostram normais com o passar do tempo. E muitas crianças que realmente apresentam a síndrome possuem uma vida digna e feliz, cercadas de carinho, amigos e amor.
Se pensarmos que seria aceitável a liberação do aborto para casos de suspeita de microcefalia, quantas injustiças estaríamos cometendo e quantos espíritos estariam sendo privados de uma chance de reencarnação? Quantas crianças estaríamos matando? Aceitaríamos também que fossem abortados os casos de Síndrome de Down ou de deficiência física? E os que já nasceram? E os que durante a vida vieram a perder alguma função motora ou intelectual? Poderiam todos ser assassinados então?
O espírito comanda o processo biológico da formação de um novo corpo, antes mesmo da fecundação. E neste momento, da junção de duas células diferentes, há o surgimento de um terceiro indivíduo, com um genoma único e independente, e que antes mesmo de ter qualquer indício de formação de sistema nervoso, já é considerado um ser humano.
Não somos nós os responsáveis por definir quais as características necessárias para se viver na Terra. Em tudo que acontece, há um planejamento. Inclusive nas nossas próprias vidas.
Este é um momento realmente importante para se pensar sobre o assunto. Há muito a ser feito a este respeito, não somente com relação aos bebês que nascem com alguma dificuldade, mas também com todas as gestantes, mães e familiares. É, acima de tudo, uma oportunidade de exercitarmos nosso amor e caridade e transformarmos um momento de dúvidas e angústias em uma chance de crescimento e aprendizado.
Taisa Bacharini