Dois caras vestidos de fraque e cartola caminhando de costas um para o outro empunhando pistolas. É desse jeito que você imagina um duelo? Amilton nos lembra da forma como ele é descrito no Evangelho Segundo o Espiritismo e se é mesmo uma prática que ficou no passado.
Muitas vezes quando fazemos o estudo do Evangelho no Lar nos deparamos com este assunto, esta lá, no capítulo 12 – Amai os vossos inimigos, na instrução dos espíritos, item III – O Duelo.
E a maioria de nós pensa que esse é um assunto inútil nos dias de hoje, pois era um costume da época de Kardec, hoje em dia não somos mais tão selvagens.
Quando vou dar palestras, ou aula, sempre que nos referimos a este tema, vemos que as pessoas estranham, afinal é um costume arcaico, mas…
Será que é mesmo um costume antigo? Será que deixamos essa insensatez para trás? Será que já evoluímos o suficiente para não mais praticarmos isso?
Me fiz essa mesma pergunta e cheguei à conclusão de que é o contrário, não só ainda praticamos como aperfeiçoamos, e praticamos muito mais do que antes.
Se nos tempos de Kardec usava-se a desculpa de defesa da honra ultrajada, hoje é praticamente a mesma desculpa, apenas disfarçada, se antes se escolhiam padrinhos para o duelo, hoje recrutamos dezenas, centenas ou até, em alguns casos, milhares, só que hoje nós os chamamos “seguidores”, se antes se escolhia uma clareira em um bosque, hoje substituímos isso pelas mídias sociais, se antes o objetivo era assassinar fisicamente o adversário, ou “ofensor”, hoje preferimos assassinar sua reputação, humilhar, demonstrar nossa superioridade intelectual (ainda que seja só aparente), queremos que a pessoa que achamos que nos ofendeu seja exposta publicamente ao escárnio, à chacota, seja ridicularizada à frente de todos, e que isso fique registrado para todos nas mídias sociais mais acessadas, como um tributo ao nosso triunfo e como uma lembrança para que a outra pessoa nunca se atreva novamente a nos desafiar.
Continuamos querendo defender não nossa honra, mas nosso ego e, na maioria das vezes, nem é defesa do ego, é só para o prazer sádico de ver o outro sendo ridicularizado.
Isso quando não ocorre de o perpetrador dos ataques ser um ex-cônjuge ou ex-amante, então se expõem até detalhes da vida íntima da pessoa, com o objetivo de prejudicar ao máximo possível.
Expressões como “imbecil, retardado, burro, idiota” e outras menos publicáveis, são algumas das armas que são usadas, e os motivos são os mais fúteis possíveis, partindo de uma simples contrariedade, principalmente nestes tempos de polarização.
E, quando não participamos diretamente, somos os espectadores ávidos por mais conflito, a famosa “treta”, e ou torcemos por um dos lados, ou torcemos para que a confusão seja maior e gere mais acusações e postagens ofensivas, para nos deleitarmos com a confusão.
Que atire o primeiro Like quem não parou um momento que seja para admirar uma confusão on-line, para ver a briga via rede social para saciar sua curiosidade mórbida.
Todos já passamos por isso, em menor ou maior grau.
E o capítulo do Evangelho fala exatamente disto, do conflito inútil e vazio, para defesa de uma honra que, se necessita de defesa tão violenta, é de se perguntar o quão frágil é.
Portanto chegamos à conclusão de que o duelo não só não acabou, como se aperfeiçoou, fomos capazes de evoluir a arte de causar dor (ainda que moral) àqueles que julgamos serem nossos adversários.
E deixamos o duelo verdadeiramente importante, ao qual deveríamos ter nos dedicado, sem travar, que é contra nossos inimigos interiores, nossos defeitos, nossos vícios, nossas mazelas e nossas imperfeições, até porque esses são mais intensos, e a única plateia que teremos é nossa consciência, mas é o duelo que verdadeiramente importa.
Então quando ler novamente este capítulo do Evangelho Segundo o Espiritismo pense que talvez seja este um dos temas mais atuais e que precisam de atenção de nossa parte, não negligencie este assunto, mas foque nos adversários internos, e ao invés de defender nossa honra, vamos defender nossa evolução.
En garde!
AMILTON MACIEL