As pessoas estão buscando obras espíritas “mais atualizadas” que as ajudem a compreender o que afinal de contas está acontecendo com a humanidade. Será mesmo? Glaucia nos prova que não.
Glaucia Savin
Muita gente desavisada me pergunta se as obras de Kardec, já passados mais de 150 anos desde a sua publicação, não estariam desatualizadas e me pedem indicações de “leituras espíritas mais modernas”.
Para o desencanto dos meus interlocutores, sempre recomendo a releitura atenta de Kardec e, em especial de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que sempre me surpreende pela incrível atualidade dos ensinamentos dos espíritos que colaboraram com a sua edição.
Um exemplo contundente, ao qual convido o leitor a revisitar, diz respeito à intolerância nas redes sociais. É claro você, leitor(a) atento (a) terá a reação de me contestar: “- Ei, peraí, não tinha computação e muito menos internet no tempo de Kardec!”
Pois é! Não tinha internet, mas a questão do respeito aos pontos de vista dos outros, ainda que estes sejam completamente absurdos, já era tratada no Evangelho.
Vamos imaginar que alguém defenda uma tese que seja absurda. Tão absurda, que a ciência já tenha provado, por vários meios, o contrário, como por exemplo, a estéril discussão de que a “Terra é plana”.
É claro que você, querido leitor, estimada leitora, tem todo o direito de pensar: “Isto não tem cabimento. Qualquer criança já estudou isto no primário!”
Pois é! Aí é que entra o Evangelho, para a nossa surpresa!
Rosália, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” Capítulo XIII, item 9, nos traz o esclarecimento a esta questão:
“…A caridade moral consiste em se suportarem umas às outras as criaturas e é o que menos fazeis nesse mundo inferior, onde vos achais, por agora, encarnados. Grande mérito há, crede-me, em um homem saber calar-se, deixando fale outro mais tolo do que ele. É um gênero de caridade isso. Saber ser surdo quando uma palavra zombeteira se escapa de uma boca habituada a escarnecer; não ver o sorriso de desdém com que vos recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se supõem acima de vós, quando na vida espírita, a única real, estão, não raro, muito abaixo, constitui merecimento, não do ponto de vista da humildade, mas do da caridade, porquanto não dar atenção ao mau proceder de outrem é caridade moral.”
Não é genial?
Kardec já ensinava o (des)valor das polêmicas inúteis. Não vale a pena desgastar-se por bobagens. Quando nos envolvemos em discussões, sejam elas quais forem, e mesmo nas redes sociais, estamos nos envenenando com as energias negativas do debate mesquinho. É claro que não me refiro aqui ao debate salutar entre interlocutores equilibrados e honestos que expõem suas dúvidas e percepções em busca do conhecimento compartilhado.
Refiro-me aqui a essas discussões intermináveis em que o interlocutor não quer ser convencido, mas apenas pretende afirmar e reafirmar seu ponto de vista em busca do reforço do ego. São discussões que não levam a lugar algum porque o interlocutor polêmico não quer ter seu ponto de vista examinado. Ele quer vencer a qualquer custo, ainda que sob o risco da perda da amizade. Isto, meus amigos, não vale um “bit”, quem dirá um “byte”.
Nestes casos, sigamos o sábio conselho de Rosália e entendamos que não há mérito em lutar contra os que estão surdos. Não são debates, no sentido filosófico. São meras provocações que buscam atingir as nossas convicções mais consolidadas e acabam por nos desestabilizar emocionalmente e em vão.
Saibamos negar importância a esse tipo de provocação que busca atingir os egos menos equilibrados. Não entremos nessa!
Guardemos para nós a paz dos corações e mentes ligados à sabedoria universal que sempre conspira para a construção de um mundo melhor, no qual cada mente vibra para fortalecer a outra e não para destruir o conhecimento, tão duramente conquistado ao longo de gerações.