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O IRMÃO DO FILHO PRÓDIGO

E o irmão do Filho Pródigo? Lendo a parábola, nunca nos preocupamos com ele. Glaucia nos desvenda os verdadeiros sentimentos desse personagem e nos leva a refletir sobre afinal o que é ser verdadeiramente bom.

Todos conhecemos a parábola em que Jesus nos apresenta a história do filho que, após gastar a parte que lhe cabia na herança, retorna à casa arrependido e é recebido pelo pai de braços abertos. O pai, inclusive, sequer espera que o filho retorne à casa, mas vai encontrá-lo no caminho, tamanha é a sua felicidade com o retorno.

Talvez, por nos identificarmos tanto com o filho arrependido que,  depois de vários caminhos tortuosos, retoma a jornada rumo à casa paterna, poucos de nós refletem sobre o personagem do irmão.

Embora uma figura secundária, é um personagem que merece a nossa atenção. Ele não se alegra com a volta do irmão e com o júbilo do pai com o retorno do filho perdido. É o filho que julga o pai e o irmão, cobrando o reconhecimento por sua obediência e devoção durante os anos em que o outro esteve ausente. O irmão do filho pródigo se gaba de haver permanecido ao lado do pai e, por isto, gostaria que este rejeitasse o filho que retorna.  Em verdade, gostaria de escravizar o pai ao sentimento de gratidão. Então, sobra pergunta: ele é, de fato, bom?

Ao analisar esse personagem, Alírio Cerqueira[1] nos alerta de que ele é o que se pode chamar de “pseudobom”.

E o que é o pseudobom? Retormando a lição de Lacordarie em O Evangelho Segundo o Espiritismo[2], podemos dizer que o pseudobom é  alguém que constrói uma imagem particular de Deus, adaptada aos seus gostos e suas ideias. É alguém que praticamente edifica a religião à sua imagem e semelhança, acreditando que somente a sua conduta é a correta e se rejubila com as suas pseudoconquistas morais, esquecendo que não evoluímos sozinhos.

O pseudobom é aquele que se acha “bom”,  “tem a certeza de sua evolução” e considera os outros, que escolhem caminhos diferentes como “perdidos”, obsediados, involuídos, e por aí vai. Esse se esquece de que há vários caminhos (inclusive tortuosos) para chegar à casa do Pai, mas que nunca chegaremos sozinhos.

Essa é a ideia que está por trás do pensamento e das doutrinas salvacionistas e de todas as ideologias que pregam algum tipo de “juízo final”, com a separação de “justos” e “injustos”. Claro que quem deseja um apocalipse ou espera o “final dos tempos” nutre a certeza de que irá “salvar-se”!

Nos caminhos da evolução, devemos ter cuidado com o julgamento que fazemos de nós mesmos e de nossos semelhantes, lembrando da lição de Emmanuel, em Palavras de Vida Eterna[3], quando nos diz que Deus é Pai de todos. E, se por algum motivo, já nos sentimos mais próximos ao Pai, não nos esqueçamos de que tal proximidade só ocorre por meio do amor que dispensamos àqueles que estão no caminho conosco.

Glaucia Savin

[1] Parábolas Terapêuticas

[2] O Orgulho e a Humildade, in O Evangelho Segundo o Espiritismo

[3] Filho e Censor, in Palavras de Vida Eterna

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