O QUE JESUS DIRIA SE VIESSE NOS FAZER UMA VISITA?

Uma ideia bacana que veio através de um poema de Fernando Pessoa, que fala de Jesus menino fugindo do céu pra morar na terra entre nós, se transformou nesse belo texto do Amilton.

Como seria hoje uma visita de Jesus? Ele, que sempre tratou a todos nós com tanto amor e tanta paciência! Aliás, haja paciência com a forma com que temos nos comportado! O que ele, pai amoroso nos diria?

AMILTON - FOTO NEWSLETTER 02Nosso mundinho, e principalmente nosso país, tem visto tempos conturbados ultimamente, para além das tribulações normais deste nosso “pálido ponto azul”, no dizer de Carl Sagan. Assistimos uma subida da temperatura no comportamento das pessoas,  ao mesmo tempo que assistimos ao crescimento da participação de todos nos debates das questões do dia-a-dia, assistimos também a diminuição drástica do nível de tolerância e bom senso, e isso tanto entre o povo quanto entre líderes e figuras mais proeminentes, a ponto de as poucas pessoas que mantém a sua serenidade e o respeito pelo próximo serem ou admiradas ou taxadas de excessivamente passivas, quando não de adjetivos ofensivos, a depender do lado que critica.

Fazendo um exercício de ficção imaginemos Jesus chegando em nosso tempo, e vendo todo o desenrolar dos fatos e como nos comportamos uns com os outros, certamente o Mestre, que era sabidamente um homem espirituoso, diria de pronto que as crianças estão agitadas demais, precisando de um abraço.

Ao nos ver assim tão agitados, com ânimos exacerbados, seria de se pensar que estamos empenhados em questões do mais alto cunho moral e filosófico, que tentamos lidar com evolução espiritual da mais alta monta para toda a humanidade, ou que colocamos nossos melhores esforços em debater como auxiliar espíritos mais atrasados em sua evolução moral para que estejam em compasso com o resto da humanidade.

Mas infelizmente, o que o Mestre perceberia, ao analisar um pouco mais próximo os fatos que se desenrolam é que deixamos que nossa vaidade e orgulho aflorassem, praticamente nos dominando na maioria dos aspectos.

Na maioria das vezes não enxergamos no outro um amigo, um irmão, um companheiro de jornada, mas sim ou um adversário ou um potencial admirador para quem devemos demonstrar nossas vaidades, ainda que para isso tenhamos que fingir sermos o que não somos,  a superexposição em redes sociais, na mídia, em todos os lugares, tem levado nossos egos a alturas antes não imaginadas. Qualquer discordância vira uma guerra, em que o outro não é mais visto como alguém com ideias diferentes e que podem contribuir para enriquecer nossa visão de mundo, mas sim como alguém que irá competir conosco pela exposição desejada.

Certamente o Mestre teria muito a nos dizer e orientar, começaria por nos dizer para acalmar nossos ânimos, serenar nossos corações e olhar não para os outros, mas para nós mesmos, perceber o que estamos fazendo primeiro para nós, pois somos os primeiros afetados por nossas ações, para o bem e para o mal, e depois que tipo de mundo e de relações estamos construindo, como estamos edificando nossos relacionamentos com nossos irmãos de jornada, com aqueles que dividem conosco a existência.

Ao mesmo tempo creio que Jesus, em sua sabedoria e bondade, veria que, apesar dos tempos conturbados de hoje, evoluímos bastante como pessoas, como seres humanos, e se uma parcela mais ruidosa se faz ouvir, não representa a totalidade, e que na maioria, estamos bem melhores.

Muitas pessoas podem argumentar e duvidar disto.

“Como estamos melhores? Olhe os atentados terroristas que o mundo sofre, olhe os radicais tanto religiosos como políticos, a violência de nosso dia-a-dia, tantas pessoas passando fome, passando necessidades, como podemos estar melhores? ”

Certamente Jesus, com benevolência e paciência, nos diria que sim, estamos e somos melhores do que há poucas décadas, afinal se compararmos, veremos que não foi necessariamente a violência e o radicalismo que aumentaram, mas sim que hoje temos meios de saber de sua existência e suas consequências, estamos mais conectados, estamos mais bem informados, e ao mesmo tempo as atitudes de ódio, violência, negligência, maus tratos, etc, nos afetam muito mais, estamos mais conscientes e mais sensíveis, já não aceitamos maus tratos a animais, a crianças, não aceitamos que um cônjuge agrida ou seja violento com o outro, isso já nos cala mais fundo na alma, nos indignamos com isso e exigimos providências, exigimos que se pare com isso.

Até no campo político estamos mais exigentes, não toleramos mais a corrupção e o famoso “rouba mas faz”, exigimos de nossos governantes que sejam mais transparentes, eficientes.

Mazelas sempre existiram, mas como agora estamos mais conectados, mais bem informados, elas estão mais expostas, o que nos passa a sensação de que há muito mais, na verdade é o contrário, esses episódios de violência, negligência, corrupção, etc, estão muito mais expostos, e levam as pessoas a reagirem, a exigirem uma postura mais correta, mais digna e mais de acordo com os princípios cristãos que nossa sociedade propugna.

Creio que Jesus veria que já não somos aqueles que ao menor sinal de falta pegávamos nas pedras e tentávamos dilapidar o pobre coitado que havia incorrido em falta, na imensa maioria das vezes uma falta muito menor do que as que nós mesmos cometíamos rotineiramente, apenas havia tido o azar de que a SUA falta havia sido exposta.

Tragédias, naturais ou não, nos comovem muito mais, e despertam em nós também o lado humano e solidário, que creio Jesus gostaria muito de constatar que aflorou, nos mobilizamos como nunca antes havia ocorrido, para socorrer irmãos atingidos por estas catástrofes, tanto aqui quanto em regiões distantes, o sofrimento de nosso semelhante nos comove e, muito mais importante, nos mobiliza, nos leva a agir e tentar auxiliar.

Enfim, creio que Jesus constataria que ainda nos falta muito  a avançar, talvez ele até pensasse que poderíamos ter avançado um pouco mais, mas que já nos melhoramos muito, já somos melhores do que há pouco tempo, e que principalmente, que temos um potencial enorme para continuar em frente, melhorando.

E que talvez nos falte apenas um pouco mais de tolerância com os que não pensam como nós, e justamente tolerância foi uma das maiores lições legadas por Jesus.

Amilton Maciel

Facebooktwitterlinkedinmail

2 thoughts on “O QUE JESUS DIRIA SE VIESSE NOS FAZER UMA VISITA?

  1. Amilton, também acho que esse história de que só pioramos não é verdadeira. Temos muito avanços. É que notícia boa é notícia ruim e hoje é muito fácil divulgar notícias…

    1. Passarinho, somos companheiros nessa, acho que já podem nos chamar de otimistas! rsss.
      Abraços.

Comments are closed.