O SER BINÁRIO

A necessidade que temos de nos colocarmos em todas as discussões, tomando partido em algumas delas, pode facilmente nos desestabilizar. É sobre isso que o Amilton nos fala nesse texto.

Ou, atenção pouca, minha opinião primeiro.

Vivemos uma verdadeira epidemia do “EU”, tudo parece estar centrado no ego, na própria opinião, na própria situação. As considerações sobre as ocorrências do mundo, da vida dos outros, de situações alheias, são sempre enfrentadas como se fossem apenas duas possibilidades, com opiniões inflamadas, como se a própria opinião fosse mudar os rumos da história ou dos fatos passados.

Isto se reflete nos extremismos que vemos hoje em dia alastrando-se por toda a parte, principalmente nos debates políticos, na sociedade em geral quando se tenta falar sobre qualquer assunto. As pessoas defendem raivosa e irracionalmente suas opiniões contra tudo e contra todos, como se todos fossem o senhor da verdade.

E isto faz mal! Faz muito mal!

E não faz mal apenas para nós, mas para toda a sociedade, para o convívio entre todos. Este ser binário, que olha o mundo com óculos bicolores: Ou é preto ou é branco! Ou é a favor de tal político ou é contra! Ou é o dia ou é à noite! Ou concorda comigo ou é meu inimigo! Isso faz com que todos percam, perde-se o saudável debate, de onde as novas ideias surgem, perde-se o respeito de uns pelos outros, perde-se a oportunidade de adquirir conhecimentos, de fazer novas amizades, e ganha-se de presente ansiedade, depressão, angústia, mau-humor, tristeza, e todos os sentimentos que gostaríamos de deixar bem longe de nós.

Mas por que vivemos isso? Por que as pessoas têm agido como se o mundo tivesse apenas duas alternativas? Por que as pessoas estão tão binárias?

Creio que uma parte da responsabilidade por isso é a superexposição que as mídias sociais provocam, todos estão carentes de atenção, porque olham para as outras pessoas, que projetam uma imagem idealizada e glamourosa de suas vidas, e pensam que toda a projeção que assistem nessas mídias sociais é verdadeira.

Andy Warhol falou lá nos anos 70 “No futuro todo mundo terá seus 15 minutos de fama”, e parece que todos anseiam não só por 15 minutos, mas por uma fama perene, e para isso passa-se sobre tudo, sem medir consequências.

Quantas discussões você já presenciou, ao vivo ou pelas redes sociais, que acabam degenerando em bate-boca sem sentido e ofensivo para todos os lados?

Será que tem jeito? Será que nós estamos nos comportando assim também?

Eu penso que tem jeito sim! Basta nos conscientizarmos, vigiar nosso comportamento e tomar algumas atitudes que mudem nossa maneira de agir, e assim melhorar nossa convivência.

Há muito tempo eu decidi tomar uma atitude em minha vida, depois de cometer alguns erros que trouxeram consequências nada agradáveis, decidi que não discuto, debato ou retruco nada com ninguém se eu estiver, como se diz, de cabeça quente, ou no calor do momento.

Muitas vezes eu simplesmente saio do lugar, o que pode parecer até uma grosseria, mas isto evita que eu acabe com os ânimos exaltados, exagerando, falando ou tomando atitudes que irão gerar arrependimento depois. Melhor desculpar-se por sair abruptamente de um debate, do que por ofensas ou atitudes bem mais graves, não é mesmo?

Em debates em que os ânimos normalmente se exaltam, procure respirar, pensar e meditar um pouco sobre o que foi dito, antes de replicar.

Isso é algo que podemos adotar em nosso dia-a-dia, afinal não estaremos certos todas às vezes, as outras pessoas também podem ter suas razões, e na maioria das vezes o caminho do consenso no debate sadio, não é nem branco nem preto, nem esquerda nem direita, mas tem nuances e cores aos milhares entre os extremos e, tenha certeza, nesses tons entre um extremo e outro todos podemos encontrar um que seja aceitável para ambos os lados.

Ouvir, refletir e meditar antes de tomar uma atitude ou dar uma réplica, nos poupa não só aborrecimentos e arrependimentos, mas muitas vezes, também vexames bem vergonhosos.

Minha sugestão: tire alguns minutos do seu tempo para analisar o seu dia anterior, principalmente suas interações com outras pessoas.

Analise sem paixões, e com o distanciamento do tempo, e reflita se poderia ter sido mais cortês, mais compreensivo, com mais empatia, o que faria de diferente se ocorresse novamente a mesma situação. Com o tempo essa análise mais racional e menos passional começa a se tornar um hábito, e a atitude de ter alguns momentos de reflexão antes de se expressar, passa a fazer parte de nossa maneira de ser e, acredite isso faz um bem enorme para a nossa saúde, tanto física quanto mental.

Amilton de Souza Maciel

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