Neste momento em que vemos tantas famílias enlutadas em razão das perdas pelo COVID 19, não podemos deixar de trazer a palavra consoladora do Espiritismo.
A primeira lição que os espíritos nos ensinam – já dando um spoiler e contando o final do livro – é a de que até hoje ninguém morreu. Os nossos entes queridos continuam vivos, em um outro plano, e podemos até nos comunicar com eles e encontrá-los no desdobramento realizado por meio do sono.
Sócrates já sabia disto ao se recusar a fugir da prisão, mesmo diante da cruel e injusta sentença de morte que pesava sobre si. E recusou-se por compreender que apenas o seu corpo sofreria o desfalecimento. Sua alma, liberta, permaneceria imortal assim como suas idéias. Mas nem todos nós temos a compreensão e a serenidade do sábio diante da perspectiva do aniquilamento do corpo.
Sofremos! E como sofremos com a perda! Por isto, é importante respeitar e trabalhar o período de luto como um tempo necessário para nos conformarmos com a separação, ainda que saibamos que esta será momentânea. A certeza do reencontro e da sobrevivência do espírito é a melhor notícia que poderíamos ter.
E como podemos ter essa certeza? Sabemos porque os espíritos voltam para nos contar. Mas também sabemos que a comunicação só se estabelece com a permissão dos mentores, quando percebem que o intercâmbio será saudável para aqueles que dele participam. Mesmo tocados pelo amor sincero, às vezes, os nossos sentimentos podem desequilibrar aquele que partiu. Imagine uma situação: uma mãe precisa viajar a trabalho para um país distante. Todas as noites, ao ligar para casa, o filho chora e pede a ela para voltar. Como se sente essa mãezinha? Assim também o espírito, que se desligou da carne, sente as nossas vibrações desagregadoras e, muitas vezes, se desespera diante da impossibilidade de atender ao chamamento daqueles que lhe são caros.
Outra coisa que precisamos saber é que o desencarne – assim como também o nascimento – é resultado da programação do espírito. Ao entendermos isto compreendemos que a morte é resultado da vontade do espírito e que, mesmo prematura, não é uma injustiça.
As saudades fortalecem o espírito desencarnado, mas nossa dor os prejudica. Por isto, é importante que nossas lembranças se fixem em imagens felizes e não nos instantes finais, muitas vezes dolorosos para o próprio espírito que se foi.A separação não é o fim do relacionamento, mas apenas uma pausa na nossa convivência diuturna. Termino esta reflexão lembrando a lição do Rabino Sobel que, ao tratar da morte, fazia referência a uma imagem poética e positiva:
“Imagine – dizia ele – que você está à beira mar e vê um navio partindo. Você fica olhando enquanto ele se afasta, cada vez mais longe, até que parece apenas um ponto no horizonte. Lá, o mar e o céu se encontram.
Neste instante você diz: – ‘Pronto. Ele se foi’.
Foi para onde? Foi a um lugar que os seus olhos não alcançam. Mas ele continua tão grande e tão bonito e tão imponente quanto antes. A perda da dimensão está em você e não nele.
Porém, naquele momento em que você diz, ‘ele se foi’, há outros que, vendo-o se aproximar, exclamam com alegria: -Ele está chegando!”
Glaucia Savin