Há poucos dias eu estava conversando com uma criança e ela me perguntou por que coisas ruins nos acontecem se nosso anjo da guarda deveria estar sempre nos protegendo. Provavelmente este é um paradoxo com o qual muita gente já se deparou, mas possivelmente se achou velho demais para questionar.
Não é o que ocorre com os filósofos: Epicuro já questionava em 300 a.C. a coexistência de três características básicas do Deus judaico – a onipotência, a onisciência e a benevolência – em um “trilema” que até hoje atordoa muita gente.
Felizes são os que estudam o Espiritismo e conhecem à fé raciocinada tão defendida por Kardec e podem então encontrar um caminho de respostas que consolam e fortalecem.
Mas voltemos à pergunta da criança: por que nosso anjo da guarda não nos protege das coisas ruins que nos acontecem? Você sabe?
A atribuição de um mentor é uma bênção divina a todos os Espíritos, encarnados e desencarnados. São outros Espíritos, mais evoluídos do que nós, que buscam sempre nos ajudar e orientar para que façamos as melhores escolhas. Escolhas: esta é a palavra-chave. Por mais que nos amem inquestionavelmente e queiram sempre o nosso bem, há leis que são absolutamente irrevogáveis e intransferíveis – e as Leis de Liberdade e de Causa e Efeito são elementares nessa equação.
O livre-arbítrio é direito inquestionável do Espírito e conforme vamos caminhando nas reencarnações sucessivas, vamos angariando conhecimento e aumentando nosso repertório para tomarmos as melhores decisões na nossa jornada. E a Lei de Causa e Efeito age diretamente nesse nosso aprendizado. Nossos mentores não podem, e nem conseguiriam, tomar as ações no nosso lugar, ou fazer as escolhas por nós. Eles podem somente tentar nos ajudar a encontrar a melhor decisão dentro de nós mesmos, se estivermos aptos e abertos a ouvi-los.
Foi basicamente isso que eu respondi para aquela minha amiguinha que recém completou sete anos. Na sequência, ela me perguntou então como podemos fazer para ouvir nosso anjo da guarda. Nossa conversa continuou, seguindo sobre a importância de termos bons pensamentos e de nos sintonizarmos com os bons espíritos, de cultivarmos sentimentos nobres e de fazermos sempre o bem. Eu tentei dar o exemplo do rádio que, ao girar delicadamente o seletor de estações, capta variadas ondas e toca diferentes músicas, mas crianças dessa idade nunca viram rádios deste tipo, muito menos ouviram falar de AM/FM. No fim ela compreendeu, mas definitivamente preciso de uma outra alegoria para me ajudar nessa explicação daqui para frente.
De qualquer forma, acredito que nós deveríamos prestar mais atenção às perguntas das crianças. Nem sempre as respostas são óbvias, mas certamente o conhecimento e o entendimento, que muitas vezes nos escapam, são fundamentais para uma saudável reflexão. Afinal, quem de nós aqui não é senão uma criança na evolução espiritual?
TAISA BACHARINI