Em conversa com o Norberto Gaviolle, ele me perguntou se eu já havia lido a primeira edição de O Livro dos Espíritos e me explicou que a versão era completamente diferente da segunda edição, que é aquela que estudamos quando entramos em contato com a Doutrina Espírita.
Animada pela curiosidade, fui buscar em sebos a tradução bilingue de Canuto Abreu (1957) e a edição mais moderna, também bilingue, de Wlademir Sanchez e Claudine Carneiro (2004).
Foi uma descoberta incrível!
A primeira edição de O Livro dos Espíritos é tão diferente da segunda que, com todo respeito a Kardec, deveria ter recebido um outro título. A segunda edição é uma nova obra, se comparada à primeira.
A primeira edição, com 501 questões, foi escrita diretamente pelos espíritos por meio da escrita mecânica. Os espíritos, inclusive, recomendaram a Kardec que nenhuma expressão fosse alterada, nem interpretada. Os próprios espíritos se incumbiram da revisão do texto, em uma tarefa que levou dez meses.
É interessante notar que, no final da obra, são expostos 120 comentários, que resumiriam os Princípios da Doutrina Espírita. Na segunda edição, esses mesmos princípios estão mesclados entre as demais explanações e as questões passam a 1.018, entremeadas por longas dissertações doutrinárias.
Ficamos presos à segunda edição, sob a falsa premissa de que por ser mais extensa, seria mais completa e abandonamos o texto original. Com isto, nós espíritas, abdicamos do conhecimento da versão autêntica, escrita diretamente pelos espíritos codificadores.
Veja que não estou aqui descartando a importância da segunda edição; muito ao contrário! Mas quero advertir ao nosso leitor que busque e se surpreenda com a primeira edição, de 1857 e se delicie com a linguagem direta dos espíritos codificadores.
Vale o estudo e, mais ainda, a delícia de duas belas traduções.
Glaucia Savin