Ronaldo nos propõe nesse texto que não nos aflijamos com as cobranças sobre a necessidade da Reforma Íntima. Que vivamos cada coisa no seu tempo para que ela se dê naturalmente.
O termo “reforma intima” dentro do movimento espírita é muito utilizado, mas infelizmente é muito pouco entendido em seu sentido mais amplo.
Dentro das casas espíritas existe um tipo de monitoramento das atitudes relacionadas à vida das pessoas e tudo acaba reduzido de forma leviana, a questão de “fazer ou não fazer”, “fez ou não fez” a “reforma íntima”.
Para o trabalhador esse acompanhamento gera uma preocupação, fazendo com que ele fique atento em não “dar bandeira” em relação às suas dificuldades emocionais, visto que essa dificuldade pode facilmente ser encarada como uma falta de “Reforma Intima”.
Para o assistido, que passa a se interessar pela Doutrina espírita e resolve dar um passo além se aprofundando nos temas filosóficos, fica a sensação de impossibilidade de cumprir “todas as obrigações” para se manter dentro de um plano de evolução nesse quesito. A todo o momento são expostos a situações tão diversas e opostas, fazendo com que ele se sinta incapaz de atingir essa tal de “Reforma intima”. Que é coisa de santo mesmo, e ele acaba se afastando da lida.
O ponto que gostaria de abordar e que gera impacto direto para os dois tipos de frequentadores de Centros espíritas é o momento em que tanto um quanto outro percebe a “falha”, a “queda”…
Aquele momento exatamente posterior à constatação de que a “reforma íntima” tão bem explicada na Casa não foi executada, não foram tomadas as decisões corretas, como o expositor, palestrante ou dirigente do Centro explicou. Esse momento é quase sempre carregado de altas cargas de angústia, causada pela perda da oportunidade apresentada e essa angústia tão maior será, quanto maior tiver sido a expectativa gerada pela possibilidade de se conseguir aproveitá-la no momento em que ela se apresentou.
Gosto muito da definição de Filosofia, apresentada por Pedro Calabrez, no vídeo Introdução à filosofia (link no final do texto) baseada na afirmação de Michel de Montaigne em Os Ensaios, de que filosofar é aprender a morrer… filosofia é a salvação de um medo comum a todos nós, a morte. Mas ele vai além, no sentido de “morte”, considerando salvação em relação a tudo que não existe ainda ou não existirá e que por consequência está fora do nosso alcance.
E a Doutrina Espírita tem isso em sua essência também, visto que a morte, que ficou no passado, está na verdade no presente, porque a solidão do afastamento não existe, já que os que amamos e se foram, estão bem aqui, no presente, bem próximos, no plano espiritual ao alcance de um simples pensamento.
Aurelius Augustinus Hipponensis, conhecido, quando em vida por Agostinho de Hipona e hoje como Santo Agostinho fez uma narrativa magistral em seu livro Confissões sobre o tempo. Ele diz que o passado nada mais é que o Presente, que deixou de existir e o Futuro, um presente que ainda não existe. No segundo após o Futuro se tornar Presente, já se tornou Passado e, como o corvo de Allan Poe vivia a repetir “Never more, never more…“. Para Agostinho, existia o seguinte conceito de tempo: Presente, Passado, Futuro; Presente no presente; Passado no Presente; e Futuro no presente. O ideal seria se conseguíssemos viver o Presente no presente.
O Passado no presente, de Agostinho são nossas angústias, nossos estados depressivos e o Futuro no presente nossas ansiedades… dois tempos, que por definição estão mortos, pois estão fora do nosso alcance e são esses dois tempos, que mais pesam no pensamento das pessoas quando se veem com a sensação da perda de oportunidade. Se sentem angustiadas por não terem conseguido cumprir o que se esperava e essa angústia, em muitas pessoas, pode ser comparada a dor física.
Ao concentrarmos nossa ansiedade pelo futuro no agora, deixamos de viver no tempo que mais nos importa, segundo Santo Agostinho, gastando nossas energias com o que está fora do nosso alcance.
O melhor que temos e podemos fazer é deixar a vida fluir, lidar com cada situação no momento em que elas aparecem conscientes de que cada atitude tomada será o melhor que poderíamos ter feito naquele momento e que a cada nova oportunidade poderemos fazer um pouco melhor sem angústias e nem ansiedades.
Ronaldo Querino
Boa noite
Adorei essa reflexão me fez parar e pensar em certas situações que somos acometidos em um piscar de olhos.
Muito boa reflexão, começar a viver o presente no presente, sabendo aproveitar cada oportunidade que a vida nos traz fazendo o nosso melhor…
Exato Cleide…
Para os gregos a vida que valia a pena ser vivida era aquele instante de vida que gostaríamos que não acabasse e um instante é um momento de vida que só é possível ser vivido no presente… primordial estar vivendo o presente para reconhecer e aproveitar a felicidade quando ela aparecer.
Nossa !!!
Legal mesmo ! ??????
Pelo que entendi , deixar as coisas fluírem , como a “água”…
Isso mesmo Fátima, deixando fluir e focando nossas energias no que está sob nossas forças nos ajuda a decidir sobre as melhores decisões a serem tomadas.