RETORNO À VIDA CORPORAL

Leonardo Mazzillo

Preceito básico da Doutrina Espírita é a possibilidade da Reencarnação. Assunto muito vasto e que envolve processos que às vezes não nos damos conta. Léo, na sua estréia como integrante do Semear, nos fala sobre isso neste texto.

A reencarnação é um dos pilares do kardecismo e constitui uma das principais ferramentas para a evolução do espírito.

Uma oportunidade única de aprendizado acelerado, que em poucos anos garante aos espíritos um resultado que, na erraticidade, demandaria muito mais tempo.

Mas o que faz essa oportunidade ser tão especial assim? Boa parte disso está exatamente no processo de retorno à vida corporal, em cada um de seus aspectos.

I – UM PROGRAMA DE IMERSÃO

Muitas vezes, em nossa vida, reclamamos da dificuldade que temos em concluir trabalhos que nos exigem concentração, por conta de fatores ambientais ou mesmo por algum impulso que nos deixa dispersivos.

Daí porque, muitas vezes, damos um jeito de buscar isolamento. E não raro nos surpreendemos quando, isolados, concluímos a tarefa que nos exigia foco em uma pequena fração do tempo que gastaríamos se estivéssemos junto aos colegas ou familiares. 

Imaginem então como não deve ser difícil aprendermos lições na erraticidade, com toda a carga de memórias, conhecimento, dívidas e arrependimentos que acumulamos em dezenas e dezenas de passagens anteriores.

A encarnação, portanto, é uma oportunidade como essa, em que conseguimos temporariamente nos desgarrar de toda essa carga para, de maneira mais eficiente, aprendermos as lições e para fazermos os resgates devidos.

II – PLANEJANDO A VIAGEM

Antes de encarnarmos, sempre de acordo com o nosso grau de adiantamento espiritual, participamos do planejamento, das escolhas que faremos para que nosso programa de imersão seja o mais eficiente possível. Escolhemos o lugar, o tempo, a família, o sexo, as preferências, as características orgânicas, enfim, todo o contexto de que precisamos para poder aproveitar ao máximo a oportunidade.

Todo o contexto da nossa vida é planejado antes do retorno à vida corporal com a ajuda de espíritos elevados. E boa parte daqueles males inexplicáveis que sucedem aos seres humanos, tais como doenças congênitas, acidentes sem qualquer participação da vítima, casos fortuitos etc. são aflições originadas de causas anteriores à encarnação e que, geralmente, são escolhidos no planejamento e consistem em elementos essenciais  para o aprendizado.

Aqui vale atentar para uma metáfora bem interessante utilizada pelos espíritos no Livro dos Espíritos: a do bom músico, a quem é dado um mau instrumento. Porque é comum nos questionarmos: “se o caminho evolutivo do espírito passa pela evolução moral e intelectual, é correto dizer que os simplórios, pela ignorância que ostentam, assim como os portadores de deficiência mental, pela limitação cognitiva, são espíritos menos evoluídos?”.

A resposta é evidentemente negativa. Isso porque, se o aprendizado depender, por algum motivo, de certa debilidade cognitiva, teremos quando muito um aparente mau instrumento, mas isso não quer dizer que o espírito não seja evoluído, isto é, que não tenhamos um bom músico. Os tais insanos que olhamos “de cima para baixo” muitas vezes são espíritos mais evoluídos que nós e que simplesmente necessitam, por algum motivo, passar por essa experiência para evoluir ainda mais.

Aliás, não cabe nem deve caber a nós esse tipo de julgamento. Faz parte do nosso processo de reforma íntima aprender a olhar para todos os irmãos encarnados e perceber que estão na mesma condição que a nossa, de espíritos mais ou menos no mesmo grau evolutivo que estão numa breve passagem, cujo contexto foi preparado para proporcionar o mais eficiente aprendizado.

III – TENSÃO NA SALA DE EMBARQUE

Apesar de a encarnação ser uma preciosa oportunidade, os momentos de planejamento e que antecedem o retorno à vida corporal são tensos e muitas vezes conturbados.  É quase como se estivéssemos nos preparando para uma viagem com destino a Marte, para passarmos uma longa temporada em uma colônia, convivendo com pessoas até então estranhas. Temos uma noção de como são as coisas por lá, mas exatamente o que vai acontecer é uma incógnita.

O medo de falhar é enorme e, não são raras às vezes em que desistimos ou postergamos a encarnação pelo temor que nos toma o espírito. Os espíritos se referem a essa sensação como a de alguém que se prepara para o exílio ou para a clausura.

Importante ter em mente que o planejamento encarnatório define apenas o contexto da encarnação como sendo aquele ideal para o aprendizado. Mas o que vai efetivamente ocorrer não pode ser previsto, porque os fatos e as interações dependem do exercício do livre arbítrio.

IV – O VÉU DO ESQUECIMENTO

Um dos grandes benefícios da encarnação, que propiciam o aprendizado acelerado, é o véu do esquecimento. Por ele, perdemos temporariamente a consciência de toda a carga que trazemos das vidas anteriores, permitindo-nos focar nas lições que viemos aprender.

O esquecimento, contudo, não acontece de uma hora para outra, mas decorre de um processo que se inicia na concepção, quando o espírito começa seu processo de ligação com o corpo, num sono que se aprofunda.

Esse processo não é linear, contando com episódios de perturbação decorrentes do próprio temor que o espírito tem em relação ao “desconhecido” e do medo de falhar nessa empreitada. Por isso, no meio desse processo, alguns espíritos recuam e, nesses casos, ocorrem abortos espontâneos.

De qualquer modo, quando o nascimento ocorre, o temporário esquecimento dos fatos pretéritos se completa, dando ao espírito literalmente a oportunidade de uma nova vida, direcionada ao aprendizado e à evolução moral e intelectual.

V – APROVEITEMOS A VIAGEM!

Podemos ver então como é preciosa a oportunidade da encarnação. Tudo foi planejado, de nossa parte, com muito esforço, angústia e expectativa e, da parte dos nossos mentores, com muito carinho e precisão.

Contamos, aqui, com tudo o que precisamos para evoluir e para viver em sua plenitude a Lei do Amor. Temos aqui também uma oportunidade única de resgate, de consertar os estragos que causamos. Que tal então focarmos nessa ideia para tentar tirar o melhor proveito dessa viagem, que já está em curso?

Abraço afetuoso!

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