SERGIO FELIPE FALA COM O “SEMEAR” SOBRE A MICROCEFALIA E A EPIDEMIA DO VÍRUS ZIKA

Dr. Sergio Felipe
Dr. Sergio Felipe

Dr. Sérgio Felipe de Oliveira, é formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Mestre em Ciências pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP e pesquisador das áreas de Neurociências, Medicina e Espiritualidade. Diretor Clínico do Pineal-Mind Instituto de Saúde http://uniespirito.com.br/), onde faz seus atendimentos e aplica suas pesquisas. Professor responsável pela Disciplina Optativa Medicina e Espiritualidade para graduandos de medicina da FMUSP e idealizador e coordenador do projeto UNIESPÍRITO – Universidade Internacional de Ciências do Espírito.

Atua também como médico voluntário do ambulatório de cuidados integrativos do Setor de Investigação de Doenças Neuromusculares do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e, gentilmente aceitou falar com a gente sobre as questões ligadas ao zika vírus que muito tem afligido a todos nós.

Estendemos nossos agradecimentos ao Pietro, filho do Dr. Sérgio e ao Dr. Renato, clínico geral, que é assistente do Dr. Sérgio no Pineal-Mind Instituto de Saúde

Transcrevemos abaixo as declarações dele sobre o assunto e suas respostas às perguntas por nós formuladas:

Dr. Sérgio comenta que tem acompanhado o desenvolvimento dessa moléstia no meio hospitalar e nos relatou um pouco dos sintomas que as pessoas infectadas pelo zika vírus apresentam.

Num primeiro momento as pessoas que contraem o vírus apresentam manchas vermelhas pelo corpo acompanhadas de muita coceira. Nessa fase utiliza-se antialérgicos para dirimir o fenômeno imuno-alérgico do efeito sintopático do vírus.

Num segundo estágio o vírus causa um inchaço nas articulações, como uma artrite aguda nas juntas: dor, moleza e cansaço.

Repouso, muita hidratação, medicamentos sintomáticos sempre com acompanhamento médico nesse quadro de apresentação dos sintomas resolvem a questão.

Algumas pessoas podem apresentar a Síndrome de Guillain-Barré,  porque o zika  vírus causa uma reação cruzada nos mecanismos imunológicos do indivíduo, confundindo o sistema  de defesa, fazendo com que o próprio organismo ataque as enervações e as articulações. Daí, o quadro de doença autoimune, já descrito acima de artrite aguda que causa dores e fraqueza muscular. Nesses casos,  é necessário uma assistência médica emergente.

Grupor Semear: O que é a microcefalia?

Dr. Sérgio Felipe: Interessante que venho lidando com a microcefalia  há muitos e muitos anos. Há mais ou menos 25 anos dirigi a estruturação  de serviços das Casas André Luiz onde há  muitas crianças portadoras de microcefalia. E essas microcefalias até então eram de causa desconhecida.Podem até ser causadas por alguns tipos de vírus. Há muitos pacientes com microcefalia já de mais de 20 anos atrás que vieram da floresta, são filhos  de  indígenas. E, sabe-se lá. Pode ser que fosse.

A microcefalia já  é conhecida  da rubéola. O vírus da rubéola lesa as células do endotélio vascular, que no desenvolvimento embrionário compromete o desenvolvimento vascular que por sua vez  compromete o desenvolvimento do cérebro.

Talvez, porque ainda não se sabe, porque não se conhece, o vírus da   zika,  que é o flavovírus, diferente do vírus da febre amarela, que é também um RNA vírus, que tem ainda características bastante desconhecidas, possa funcionar como o vírus da rubéola, mas ainda não se sabe.

Na microcefalia, o cérebro não se desenvolve dentro dos padrões normais. Fica com tamanho abaixo dos padrões, com perímetro encefálico diminuído.

De qualquer forma tudo isso ainda precisa ser melhor  estudado. Ainda não dá pra dizer se o vírus da zika provoca a microcefalia ou se já existe um fator de predisposição  que favorece a ação do vírus provocando  o aparecimento da microcefalia.

 Grupo Semear: Qual a  relação da microcefalia com o zika vírus?

Dr. Sérgio Felipe: Não se sabe se há uma relação direta ou não. A microcefalia já existia antes do zika vírus. O vírus promoveu um aumento agudo da microcefalia.  Inclusive esse aumento pode ser fruto do aumento da percepção das notificações dos casos da microcefalia. O sistema de notificação de doenças no Brasil é considerado precário pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Os números divulgados pela área de saúde sobre a incidência das doenças estão muito aquém daqueles dos países desenvolvidos.

De repente começou-se a prestar mais atenção aos casos de microcefalia, que já ocorria. Então, fica-se com essa dúvida.

Houve estudos que mostraram a presença do zika vírus no tecido cerebral. Enfim, parece que a relação está se evidenciando.

Mas ainda tem muito a se pesquisar.

Grupo Semear: Quais as sequelas que o indivíduo pode apresentar?

Dr. Sérgio Felipe: No caso de uma microcefalia  pode haver situações surpreendentes onde o indivíduo não  tem prejuízo e apresenta um andamento normal  do ponto de vista de seu desenvolvimento intelectivo e motor.

Em outros casos, pode ocasionar atraso no desenvolvimento neuro-psicomotor, deficiência mental, como era chamada antigamente. Pode acontecer. Pode. Mas há casos em que não ocorre.

É uma afecção no cérebro que pode não apresentar nenhum prejuízo em alguns indivíduos e em outros provocar um quadro de atraso no seu desenvolvimento neuropsicomotor.

Grupo Semear: Na sua opinião o que é verdade e o que é alarmismo?

Dr. Sérgio Felipe: Vou passar a bola para o Dr. Renato Remorini porque o que é verdade é a questão do saneamento básico que demonstra a nossa pobreza quanto aos investimentos nessa área, o  que é alarmante.

Dr. Renato Remorini: Só há  dengue, chikungunya e  zika porque ainda existem áreas de esgoto a céu aberto e falta de água encanada em muitas localidades O problema não é o mosquito.  Porque o mosquito  voa poucos metros. O grande problema são os criadouros, que  só existem por falta de planejamento da cidade em relação às questões de saúde pública e de higiene. Numa cidade limpa não existe ambiente propício para a procriação e desenvolvimento de mosquito. Essa grande epidemia que estamos vivendo é uma repetição do que nós já vivemos no passado, com epidemias de dengue. E agora com o surgimento de novos vírus.

Enquanto o Brasil não olhar para a questão séria do saneamento básico podem surgir novas doenças que tem uma causa básica que é o saneamento básico.

Dr. Sérgio Felipe:  É  interessante que mais  da metade do nosso país não tem saneamento básico. Mas não estou aqui pra falar de culpa. A culpa é de todos nós. Todos precisamos estar envolvidos nessa questão que é uma questão ecológica.

Há uma outra questão de fundamental importância que os homeopatas estão nos alertando que é a seguinte: quando você faz uma vacina pra combater um vírus, aquele vírus vai  mutar em outros vírus. Por exemplo, o aedes  já transmitia outras viroses e foi transmutando. Já tivemos a febre amarela na época do Oswaldo Cruz. A febre amarela é endêmica em nosso país. Agora vemos outros vírus.

Não adianta só fazer vacinas  e tomar remédios. Há que se ter respeito pela natureza. O saneamento básico envolve respeito pela natureza. Nossos mananciais foram desmatados.

A água precisa ser tratada como material sagrado, como tudo na natureza. A questão do lixo e da reciclagem deve ser tratada desde cedo nas escolas na educação das crianças. As escolas precisam ensinar mais sobre os elementos da vida prática e não se focar unicamente no vestibular, esquecendo as coisas que temos na nossa própria casa.

Emmanuel Kant, em a Critica da Razão Pura, cita outro filósofo Pérsio em Sátiras, que já dizia: – Cuida do teu lar e você vai saber quão poucas coisas você tem.

Precisamos aprender e ensinar o cuidado com as poucas coisas que nós temos e com as quais somos comprometidos, aprendendo a fazer a nossa parte em relação à sociedade, nos cuidados com o lixo, na economia no cuidado com as animais, com a vegetação.

Faz-se uma nova vacina. Causa-se um desequilíbrio ambiental e depois como se resolve isso?

Há um certo comportamento ecológico que remete a  índole de cada um de nós .

Grupo Semear: Qual a sua visão como médico espirita?

Dr. Sérgio Felipe: Aqui pra responder essa questão vou me valer das reflexões do meu amigo  Pietro.

Pietro: O que essas epidemias tem a nos dizer? Em especial essa epidemia de zika?

A zika nos remete a maternidade e ao carinho com o próximo. A humanidade viveu e ainda vive atualmente um embate com relação ao acolhimento aos refugiados na Europa.

Existe aí uma lição a ser aprendida nessa questão. Devemos refletir sobre o que Deus está querendo nos ensinar com isso.

Nas epidemias há algumas lições para se aprender em termos do desenvolvimento do espírito. Segundo os gregos antigos, as doenças não se resolvem sem resolução de problemas existenciais. A cura está dentro de cada um de nós.

Dr. Sérgio Felipe: O Pietro está colocando a causa da doença na essência do espírito. Quando você se renova espiritualmente, há um reflexo no corpo físico porque a causa desaparece e se inicia o processo de cura. Nas epidemias há uma lição para aprendermos em torno de desenvolviento do espírito

Uma das grandes questões existenciais trazidas pela zika é a questão da maternidade: Bebês portadores de microcefalia.

O quanto   nós vamos acolher desses  seres? Fazendo discriminação por serem microcéfalos?

Será que nós, brasileiros, vamos dar esse exemplo?

Acredito que precisamos acolhê-los porque todos os seres tem os mesmos direitos, tenham ou não microcefalia. Qualquer forma corporal, qualquer forma de ser, o cidadão tem direito de nascer. O nascituro tem  direitos. Não podemos obstruir o direito do nascituro porque  tem microcefalia.

Nós precisamos aprender  a lidar com a natureza material e para esse aprendizado nós precisamos ter equilíbrio, solidariedade, visão existencial, saber lidar com a harmonia da natureza, ter disciplina, ter conhecimento, e sobretudo, quando é inexorável, ou seja, quando é inevitável que venha alguma problemática como por exemplo o bebe microcéfalo,  o bebê portador de microcefalia, nós temos sim um compromisso como cristãos que somos. E aqui vou colocar no balaio do cristão, porque Cristo não fazia discriminação religiosa, o muçulmano, o judeu, o hindu, o africano de filosofias as mais antigas, e todas as culturas do planeta abraçadas pelo Cristo, ligadas ao bem, a paz e ao amor . E, portanto, o Brasil como Pátria do Evangelho, coração do mundo, vai dar o exemplo.

Espero que essas reflexões possam ter auxiliado a nortear a consciência de cidadania frente a essa epidemia que está acontecendo, mas sobretudo a acolhê-los com amor, quem é que venha pelo útero mandado por Deus, na condição que vier, será recebido com muito amor.

Muita paz e luz em seu lar e seu coração.

conexão pinealAcompanhe o Programa Conexão Pineal, do Professor Sergio Felipe,  na Rádio Boa Nova, com esta discussão e outros temas relevantes. O Programa vai ao ar todas as terças-feiras,  às 14h30, com reprise às quartas-feiras, às 01h30

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