A parábola do Filho Pródigo continua rendendo boas reflexões à Glaucia, e como sempre, bastante atuais.
Mais uma vez, voltamos nossos olhos para a riquíssima parábola do filho pródigo, repleta de simbolismos e de imensuráveis lições.
Desta vez, focamos nosso olhar no momento exato em que o rapaz arrependido, ao voltar à casa do Pai, pede a este que o receba como servo, por não se sentir mais digno de ser chamado de filho. O Pai, generoso e amoroso, ignora o pleito envergonhado do jovem e pede que tragam ao filho novas vestes e um anel.
Que imagem incrível!
Assim também acontece conosco. Ao retornarmos ao plano espiritual, muitas vezes envergonhados pelas oportunidades desperdiçadas, pedimos ao Pai um recomeço. E este, de forma magnânima, nos oferece um novo corpo (as novas vestes) e uma identidade novinha em folha (o anel).
Isto porque, como nos explica Kardec, logo no primeiro capítulo de A Gênese, para Deus, passado e futuro são o presente. Deus já nos vê como espíritos puros desde o início da nossa criação e, por isto, nos considera como filhos.
Mas, ao retornarmos ao corpo material, assumimos a postura de servos ou de filhos?
Assumimos nossas responsabilidades perante a espiritualidade, no Centro Espírita ou nas ações fraternas porque nos sentimos obrigados ou porque entendemos que trabalhamos na “empresa” da família e estamos auxiliando a construir alguma coisa maior do que nós?
Muitos encaram o trabalho como um peso. Isto provém de lembranças imemoriais do espírito que via no trabalho uma pesada obrigação.
A Bíblia nos conta que quando Adão e Eva foram expulsos do paraíso, Deus os condenou ao trabalho para que pudessem sobreviver (“No suor do teu rosto comerás o teu pão”, Gênesis 3:19). Essa ideia de trabalho como penalidade e não como instrumento de aperfeiçoamento, permaneceu no imaginário de muita gente. Até bem pouco tempo atrás, as pessoas nobres dedicavam seu tempo ao entretenimento. A necessidade de trabalhar era vista como algo depreciativo.
Felizmente, essa ideia vem perdendo lugar para a compreensão de que a inutilidade e a passividade diante da vida não fazem bem à autoestima. Uma vida produtiva e as realizações trazem recompensas até mesmo hormonais. A satisfação pela realização de algo bem feito faz com que as pessoas se sintam realizadas e mais seguras de si mesmas, independentemente da remuneração. O senso de propósito em tudo o que se faz até virou moda. Ainda bem!
Daí, vem a compreensão de que toda atividade útil é trabalho, seja ou não remunerado.
A questão é saber como nos colocamos diante do trabalho: como uma obrigação ou como algo natural à nossa essência espiritual.
Sabemos que a eternidade nos espera com muito trabalho. Aqueles que imaginam a vida espiritual como um “jardim de delícias”, com um gramado verde, céu azul e descanso eterno não poderiam estar mais enganados. Aliás, Emmanuel já nos adverte que a paz de Jesus “não é o descanso dos cadáveres”, mas é atividade incessante.
Bom! Neste ponto, já deve ter gente pensando que essa vida eterna não vai ser tão moleza assim e podem até estar imaginando como é que vão sair desta! Outros, já devem estar computando os tais “bônus-hora” para saber se tem algum crédito lá do outro lado.
Pois é! Para quem se sente servo e encara o trabalho como obrigação, a sensação é essa mesma. Porém, se você entender que a proposta de Jesus é inclusiva e resolver encarar o trabalho que vem pela frente como o “negócio da família”, as coisas mudam de perspectiva.
Servo ou filho: a opção é sua!
Glaucia Savin