VELHICE: QUANDO AINDA É CEDO PARA A PRÓXIMA ENCARNAÇÃO

As dificuldades na fase do envelhecimento. A aceitação e a convivência com a família. Glaucia conta um pouco da sua experiência no relacionamento com os idosos e quão rico isso pode ser. Lição que deve ser ensinada aos mais jovens.

Meu sogro octogenário e a esposa dele foram ao geriatra que perguntou logo no começo da consulta: – Vocês se amam? Diante da resposta positiva, o médico sorriu e retrucou: – Então, podem ir embora.

É isto!  A melhor receita para a saúde, não só na chamada terceira idade, mas em toda a vida é viver em atividade e cercado de amor.

Mas, o que fazer quando o idoso fica só, por motivos que não decorrem de escolhas, mas de circunstâncias da vida?

Aí é que a situação se complica porque ao desmontarmos a rede familiar, geramos órfãos na terceira idade.

Lembramos que na nossa infância, era muito comum os avós virem morar conosco. Para as crianças era uma alegria, aprender a andar de bicicleta com o avô e poder comer as delícias que só as nonnas sabiam fazer (aliás, se eu soubesse o quanto ia sentir saudades da comida da minha avó, não teria feito regime na adolescência).

Se para as crianças era uma maravilha, para os avós, era uma forma de se sentirem integrados, amados e úteis.

Mas isto é passado.

Hoje, uma adolescente nem pensa em dividir o quarto com a irmã para deixar o seu para a avó.  Cada um tem o seu espaço, que não se compartilha com mais ninguém.

Cada vez mais, vemos pessoas de idade morando sozinhas, não por opção, mas por falta de acolhimento. O problema é que morar sozinho implica ter autonomia. Nem sempre o idoso possui as condições físicas e mentais para o exercício pleno das autonomias que implicam desde acessar o banco pela internet até ser capaz de operar o controle da TV a cabo. Smartphones, então, são um desafio à parte.

Lembro, ainda, da avó do meu marido, que morava na nossa rua, cercada de gente querida porque, por um acaso muito feliz, boa parte da família acabou morando no mesmo quarteirão. Era divertidíssimo conviver com ela, que tinha um bom humor excepcional, que a idade só fez aumentar. Vovó Mosquinha, como era carinhosamente chamada, ria de si mesma e das dificuldades que a idade acarretou a ela. Aos noventa anos, tinha a audição melhor do que a minha e ainda lia o jornal sem óculos. Desencarnou aos 101.

Um caso excepcional, sem dúvida!

Os idosos mais geniais que conheci, envelheceram em atividade. É só lembrar que Dona Tomie Ohtake, trabalhou até o final dos seus 101 anos; Oscar Niemeyer, faleceu lúcido e ativo aos 104 anos e, ainda, se orgulhava de namorar com a Vera. Nelson Mandela, depois de tudo o que fez em defesa da igualdade racial na África e que lhe garantiu o prêmio Nobel da Paz, fundou um grupo de políticos e pessoas influentes que se reúnem para debater os problemas do mundo. O nome do grupo: The Elders (Os Idosos)! Veja lá: http://www.theelders.org/. Para fazer parte, além de ser influente no seu raio de atuação, o sujeito precisa ter um requisito primordial: não pode ser novinho!

Quando vejo idosos sendo postos de lado pela família, penso que quem está, de fato perdendo, são aqueles que se privam da convivência com as pessoas mais velhas. Muita gente, ao desprezar o idoso, nem imagina o quanto perde em trocas afetivas genuínas.

Quanto aos mais idosos, o segredo está em manter-se ativo, em se acreditar vivo e em não esperar a morte no sofá. A velhice não pode ser sinônimo de aposentadoria da vida. Afinal, ainda é cedo para a próxima encarnação.

Glaucia Savin

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