Glaucia Savin
Vez ou outra alguém nos questiona sobre o auxílio ao nosso próximo. Devemos somente orar por ele ou contribuir de uma forma mais efetiva na sua melhoria? A Glaucia nos fala sobre isso.
Volta e meia me pedem para orar para alguém em situação difícil. Também não conheço nenhum espírita a quem não peçam para colocar o nome de um ente querido nas vibrações da casa.
E nós todos, menos por capacidade de resolver, mas por amor e solidariedade, confiando na imensa generosidade da espiritualidade, nos pomos a orar e levamos o nome em um papelzinho para a caixa de vibrações. E prosseguimos felizes, acreditando que fizemos a nossa parte.
Será que fizemos mesmo?
Emmanuel nos ensina que sempre que oramos, pedindo a intercessão espiritual em favor de alguém, temos que analisar se não estamos tentando “terceirizar” uma tarefa que é nossa.
Será que a o parente por quem solicitamos a benemerência dos espíritos não seria tarefa nossa? E o colega de trabalho em perturbação? Será que não estamos tentando simplificar a nossa tarefa, delegando à espiritualidade o problema?
Quantas vezes, aquele que pede não é aquele que tem, diante da dificuldade posta, uma oportunidade verdadeira de intercessão ao seu alcance?
Sobre isto, lembro que um dia, um aluno querido, me perguntou: – Mas, quando devo ajudar? Devo ajudar sempre?
A resposta não é simples, mas quando alguma coisa está no nosso caminho, é conosco!
A primeira reflexão deve ser sempre: o que posso fazer neste caso? Que recursos morais e materiais possuímos para auxiliar?
Claro que há limites na nossa intervenção. Não podemos substituir o outro na tarefa de desenvolvimento que lhe compete. E aí entra a dificuldade de saber até onde ir.
Há pessoas que sofrem do “complexo de deus”. São aquelas que pensam que sem elas, ninguém vai fazer nada certo. Acabam sufocando os outros por acharem que o único jeito correto é o delas mesmas. O mundo todo está sempre errado e elas estão sempre certas. No final, elas desencarnam e o mundo continua muito bem, obrigado, sem a intervenção sufocante daquele que se acha “o dono da situação”.
Não. Não é desse tipo de ajuda que falamos!
Toda dificuldade, nossa ou dos outros, é meio de desenvolvimento; é oportunidade para todos os envolvidos.
Muitas vezes, o fato de escutarmos com atenção àquele que pede, ou mesmo o telefonema da tia chata (que deve ser atendido com benemerência, exatamente porque ela é chata e ninguém dá atenção a ela), é um ato de amor. Todo o caminho em que transitamos é oportunidade.
Quando nos dispomos a simplesmente orar ou pegar o papelzinho para a vibração, estamos nos privando da nossa parcela de trabalho e, muitas vezes, isentando o outro da tarefa que também é dele.
E se ao invés de levar apenas o papelzinho, levássemos a pessoa que pede (junto com o papelzinho, claro) ao centro para ouvir a palestra? E se fossemos, junto com ela, visitar o doente e levássemos um livro? Ou um bolo? (espírita adora comer bolo, diz a minha amiga Regina). Ou, ainda, se propusemos orar juntos?
Espiritismo não promete milagres. Espiritismo é doutrina de transformação e florescimento. E não se consegue mudar nada fazendo sempre a mesma coisa.